Este cara aí de cima é um companheiro que tenho há muitos anos. O bicho é tão chique que tem nome e sobrenome: Transtorno da Ansiedade Generalizada. Mas eu o apelidei de "Sofrência", por que é exatamente isso que ele proporciona. Não o subestimem! Apesar da cara de sonso, ele é capaz de muita coisa, viu? E nenhuma delas é agradável...nunca!
Pode parecer uma grande bobagem a primeira vista, mas o TAG é considerado uma doença! Catalogada e tudo mais. Ele vai além de se sentir ansioso por ter uma excursão na escola, uma festa ou uma entrevista de emprego. Nestes casos, a ansiedade serve como um sinal que vai te preparar para enfrentar o desafio e, mesmo que não consiga, te prepara, também, para superar isso. Em se tratando do verdinho aí...a história é bem outra.
Costumo dizer que ele é o estopim do caos. A fagulha que não deveria nunca ser acesa. Sabem aqueles incêndios que acontecem em florestas por conta de uma bituca de cigarro e perdem o controle devastando quilômetros e quilômetros? É exatamente esta a sensação que quem sofre deste mal tem. Tudo começa com um pensamentinho ou uma situação. Algo bem bobo, pode ser qualquer coisa: um atraso, alguém demorando no caixa quando você tem pressa, trânsito, esperar um telefonema, qualquer coisa. Precisa só de um acontecimento e pronto! Lá está ele assoprando no seu ouvido: "mas por que tanta demora?", "Ele não sabe mexer no caixa?", "Será que aconteceu alguma coisa?" , "Não está vendo que tem gente esperando?"...e a coisa piora...e cresce em proporções de chegar a sentir raiva do fato ou pessoa que desencadeou a reação! Os níveis de ansiedade das pessoas com TAG, sempre são desproporcionais aos acontecimentos geradores do transtorno. Sempre.
Eu tenho TAG. E demorei anos para descobrir que sofria deste mal. Pode parecer uma justificativa para o famoso "pavio curto" mas, infelizmente, não é. Sou inquieta, tenho dificuldade de concentração em muitas coisas, meu maxilar chega a doer de tanto que tenciono, meu sono é horrível, meu cérebro não para um instante, já cheguei a ter taquicardia e vômito em crises muito grandes. E olha que estes são só os sintomas físicos! O reflexo maior disso tudo é social. Relacionamentos são terminados em ataques infundados, discussões desnecessárias, sentir raiva de pessoas sem ao menos conhece-las ou saber suas verdades. O negócio vai tão longe que a situação não precisa acontecer comigo. Se vejo algo acontecendo com outra pessoa, sinto por ela!! As pessoas que sofrem deste distúrbio se tornam anti sociais natos. Lugares muito cheios me incomodam, aglomerados de gente andando na calçada me incomodam! (Imaginem como sou no ônibus....). Não consigo andar no shopping e apreciar uma vitrine!! Mesmo passeando, ando como se tivesse que tirar o pai da forca!
Dizer a palavra "distúrbio" pode parecer uma coisa horrível, mas é o primeiro passo para se lidar com o problema. Por que isso é um problema! Um problema MEU! O cara que demora no caixa, a pessoa que atrasou o telefonema, as pessoas que passeiam na calçada não tem culpa (lembrando que não estamos falando da "falta de educação" dos outros...como por exemplo andar em zigue zague na calçada...por que né? isso não dá para encarar). Na verdade nem eu tenho. Mas é uma obrigação minha aprender a controla-lo. Por que, apesar do caos todo, tenho plena consciência que estou exagerando. O difícil é controlar.
Foi assim que criei o rapaz que ilustra este post. Personificar as coisas é um jeito meu de lidar com elas. Hoje estamos aprendendo a caminhar juntos. Sim, caminhar! Por que descobri que esta é uma das maneiras que tenho de apaziguar a sofrência toda. Quando percebo que uma crise pode se iniciar, eu ando. E ando pacas. Pode ser em qualquer hora. Levanto e ando até passar. Gosto de imaginar que ele vai sentadinho no meu ombro e que o vento que balança seus pelos faz com que se acalme e fique quieto. Talvez ele seja só um monstrinho que goste de vento! Por que não?
O importante é assumir que este monstro é meu. Que quem tem que lidar com ele sou eu. Nesta empreitada já andamos muito e sei que andaremos muito mais. Perdi a vergonha de assumir que carrego ele nos ombros. Entendi que ninguém tem nada a ver com isso, a não ser eu e ele. Nas nossas andanças, aprendemos a substituir um pensamento ruim por dois bons. Com isso, o mundo tem ficado mais leve. E ele também! O monstrinho verde que carinhosamente chamo de sofrência. Que gosta de sentir o vento balançando seus pelos e que, quem sabe um dia, mudará de nome. Quem sabe um dia.